Era uma princesa que vivia num castelo muito distante, num tempo mais distante ainda. Como já estava em tempo de pensar em casamento, seus pais, o Rei e a Rainha, lembraram-se do acordo que tinham com os reis de um castelo próximo de dar a mão da princesa ao herdeiro do trono vizinho.
A princesa, no entanto, gostava muito de passear pelo vilarejo e havia recentemente se apaixonado por um plebeu. Encontravam-se às escondidas, trocavam juras de amor eterno e sorrisos envergonhados. E planejavam um jeito de evitar o casamento com o príncipe herdeiro e de ficar juntos.
No dia em que o Rei anunciaria à nobreza o noivado entre sua filha e o filho dos reis vizinhos, a princesa encheu-se de coragem e declarou ao pai seu amor pelo plebeu. Escandalizados, Rei e Rainha tentaram de todas as maneiras persuadir a menina a não ser ingênua e a aceitar o bom casamento que se lhe oferecia. A princesa, no entanto, anunciou que, se fosse obrigada a se casar com o príncipe, morreria de desgosto.
O Rei e a Rainha conversaram entre si, durante um tempo, após o que o pai foi anunciar à filha sua decisão: fariam um concurso de poesia, e quem escrevesse o melhor poema ganhava a mão da princesa. O Rei sabia que o plebeu, plebeu que era, devia ser analfabeto, portanto o concurso seria fatalmente ganho pelo príncipe. A princesa, no entanto, em sua ingenuidade, quase morreu de felicidade e foi contar ao seu amado que haveria o concurso e que eles poderiam enfim se casar.
Ao ouvir a notícia, o plebeu fingiu contentamento, mas na verdade, como de fato era analfabeto, muito se entristeceu, pois sabia que perderia a disputa e a noiva. Entretanto teve uma ideia: lembrava-se de um tio seu que era poeta e morava numa cabana na floresta. Correu até a casa do tio e pediu-lhe que escrevesse um poema para o concurso. Assim, o plebeu entregaria a poesia do tio como se fosse de sua própria autoria, ganharia o concurso e a felicidade eterna ao lado da mulher amada.
Tudo foi feito como combinado e, no dia do concurso, o poema escolhido pelos jurados foi o poema do plebeu. Entre muitas palmas e aclamações, o Rei, desconfiado, disse:
— Muito bem. O ganhador do concurso, então, deve declamar seu poema em voz alta para o povo o conhecer.
Assustado, retrucou o pobre homem:
— Mas, Majestade, eu não costumo decorar os poemas que escrevo.
— Não tem problema — disse o Rei. — Você pode ler.
Aquela palavra gelou a espinha do plebeu. Seguiu-se que, naturalmente, todos descobriram a farsa que o plebeu tinha planejado, e o prenderam numa cela escura e fria, sem comida e sem água.
Alguns dias depois de preso, mal se aguentando nas pernas de tanta fome e sede, o plebeu implorou clemência aos seus carcereiros. O verdugo, no entanto, tomando de uma espada, cortou-lhe o viril membro e o serviu ao próprio plebeu acompanhado de um pão.
Sem ter alternativa, o plebeu comeu aquele sanduíche maldito, para aplacar sua fome.
Moral da história: escreveu, não leu...