quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Luta de classes

"A Polícia Civil de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, prendeu na manhã desta quarta-feira Solange Ferreira Santos, 44, acusada de ter ateado fogo em uma aposentada na porta de um banco. Gessi Peixoto Gomes, 71, teve ao menos 60% de seu corpo queimado. Segundo a polícia, a acusada se revoltou porque não conseguiu receber a pensão no banco. Ela comprou gasolina, voltou à porta da agência e ateou fogo na aposentada." (Folha Online)

"O mesmo aconteceu no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro e em vários aeroportos do país. Em Cumbica, policiais federais impediram um grupo que ameaçava agredir um piloto. Passageiros também tentaram subir nos balcões das empresas irritados porque, além dos atrasos, eles não poderiam desistir de voltar para casa, já que suas malas já haviam sido recolhidas." (CorreioWeb)

Ninguém, nos últimos vinte ou trinta dias, ouviu a mídia falar sobre filas para receber aposentadoria, nem sobre atrasos nos pagamentos de benefícios a aposentados. É pouco provável que se tenha noticiado algo sobre as filas que começam a se formar em frente às escolas públicas, com as mães acampadas na calçada para tentar obter uma vaga para os filhos. Duvido que, nos últimos dias, tenha se dado destaque na mídia para as filas de doentes nos hospitais. Aliás, para não ser injusto, a Record falou um dia desses, rapidamente, sobre as pessoas que esperam há meses, MESES, por uma prótese nas burocráticas filas do SUS.
Mas todos os dias, pelo menos umas cem vezes, ouve-se falar nas filas e atrasos nos aeroportos do Brasil. Um absurdo um cara ter que esperar duas horas, veja bem, DUAS HORAS, para ir passar uns dias à beira da praia. Há pelo menos um repórter em cada aeroporto do Brasil cobrindo a tragédia e o caos. Até mesmo um ladrão foi preso e flagrado roubando os coitados que, além de terem seu voo cancelado, ainda estão sujeitos à criminalidade que campeia nos aeroportos desse país.

Confesso que estou com vontade de sair disparando clichês por aqui: isto é um absurdo; é por isso que o país não vai pra frente; a mídia só atende aos interesses da classe dominante; o povo não tem vez nem voz etc.
Mas o que me chamou atenção nessas duas notícias aí de cima, uma do Correioweb outra da Folha Online, foi a reação dos respectivos prejudicados. Vejam que é a mesma: atacar quem não tem nada a ver com o problema, transformar a ira em agressão, demonstrar que a irracionalidade não se limita a uma ou outra classe social.
A diferença, é claro, estará no julgamento que os jornais e a sociedade farão dos respectivos atos de violência. A mulher que ateou fogo na outra é uma louca desvairada e deve ser presa e condenada (nisso, aliás, terão toda a razão). Os passageiros indignados que agrediram os funcionários das companhias aéreas e quebraram os balcões estão agindo legitimamente, lutando pelos seus direitos.
É claro que as duas situações são diferentes. Mas não tanto quanto parece.

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