segunda-feira, 12 de março de 2007

Ingênuo, eu?

Continuando a falar de Saramago, uma das críticas que mais ouço a ele é uma alegada ingenuidade ideológica, um comunismo superficial, um esquerdismo de meia pataca. Não discordo frontalmente dessas críticas. Há, de fato, alguns comentários que beiram a infantilidade, ao menos numa leitura literal. Mas ontem terminei de ler Desvarios no Brooklin, de Paul Auster. É um bom livro, bem-escrito, mas recheado de críticas contra Bush, contra a miséria, contra a guerra, contra o capitalismo, contra o consumismo, contra os valores da sociedade moderna. Tudo assim, "o capitalismo é uma merda" enquanto o personagem toma uma coca-cola. Saramago pode pregar uma ideologia ingênua, mas ele leva a sério o que diz. Quando ele diz que o mundo poderia ser diferente, ele de fato acredita que pode mudar (um pouco) as pessoas por meio de suas parábolas. Auster não. Desfila clichês, despretensiosamente, irresponsavelmente. Falou aqui, já esqueceu ali adiante.
Saramago se leva muito a sério. Ingenuamente, mas se leva a sério. Paul Auster dá uma voz moderninha e descolada aos seus personagens, mas não leva a sério nada do que eles são ou dizem. Entre ingenuidade autêntica e palraria irresponsável, ainda conservo melhor lição dos livros de Saramago do que do interessante porém efêmero livro de Auster.
Eu, como leitor, me levo muito a sério.

Aliás (comentário marginal, sem relação com o resto, mas irresistível), por isso mesmo, já abandonei a leitura da maior parte dos blogues que listei aqui do lado. Quando tiver saco, apago ao menos metade deles dessa lista.

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