quarta-feira, 31 de maio de 2006

Texto bom de JPCoutinho na Folha

Como só acessa quem é assinante da Folha, colo o texto todo por aqui mesmo:


JOÃO PEREIRA COUTINHO

Planeta dos macacos

QUE VERGONHA. Eu queria escrever sobre "O Código Da Vinci", mas tenho dois problemas básicos. Não li o livro e não assisti ao filme. Calma, a história é mais complexa: o livro, eu li, mas só até metade. A certa altura, senti um cheiro pastoso à mandioca queimada e percebi, sem surpresa, que eram meus neurônios derretendo. O filme fui assistindo. Atenção ao gerúndio: assistindo. Ou seja: assistia, adormecia, assistia, adormecia. Por outras palavras, sou um verdadeiro especialista no assunto.
Mas quem não é? Só nesta semana, li na imprensa inglesa que 60% dos leitores de "O Código Da Vinci" (se preferirem, 7 milhões de pessoas) acreditam firmemente na "verdade" do "Código". Cuidado, gente: estamos a falar da pátria de Newton, Darwin ou Peter Cook. E que "verdade" é essa? Pois é: parece que Jesus e Madalena casaram na Galileia e deixaram descendência. A descendência anda por aí, 2.000 anos depois. Não olhem para mim. Está bem, olhem, mas juro que não sou.
O problema é que esta "verdade" foi escondida pela igreja: em 325 d.C., o imperador Constantino, apostando em transformar o cristianismo em religião oficial, decretava a divindade de Jesus. Madalena fora marginalizada pela igreja, procurou refúgio na França e, sei lá, terminou seus dias a fazer camembert (não li esta parte; adormeci, idem). Infelizmente para Constantino, para a igreja e para a hipocrisia do cristianismo, existe um grupo, chamado Priorado do Sião, que conhece tudo e ameaça contar. O livro e o filme começam com a morte de um membro do clube, assassinado por um louco da Opus Dei. Não vou relatar o fim para não estragar a surpresa. A começar pela minha.
E a começar pela vossa. Nos últimos dias, familiares e amigos, dominados pelo livro de Dan Brown, têm perguntado se a "verdade" do "Código" é, digamos, verdade mesmo. Suspiro. Estou velho. Estou cansado. Dizer o quê? Que o Priorado é invenção de um fantasista francês, Pierre Plantard, condenado por fraudes? Que o casamento de Jesus e Madalena pode entusiasmar as massas que assistiram a "Uma Linda Mulher" - mas que não encontra suporte em nenhum tipo de texto, canônico ou apócrifo?
Não vale a pena. Deitado no sofá, onde passo meus dias, reparo então em notícia científica que se adapta ao momento: homens e macacos transaram, algures, no passado. Mais: de acordo com a ciência, a nossa espécie é resultado dessas horas de amor íntimo. Pessoalmente, nunca duvidei. Não falo apenas de certas feições símias, sobretudo entre a classe política. Falo de hábitos: hábitos mentais que sobreviveram a tudo. Inventamos o fogo. A roda. A agricultura. Descobrimos continentes. E planetas. Mas persistiu sempre no fundo de nós esse macaquito primitivo que olha para os mistérios do mundo como se o cosmos fosse dominado por forças misteriosas. As teorias da conspiração são uma adaptação moderna da histeria animal que Kubrick filmou em "2001". E que passou para os nossos genes. Aliás, se dúvidas houvesse, bastaria citar o "Código" e os milhões de macaquitos que leram e acreditaram.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Mais literatura

Belo, belo, muito belo! Estou falando disto aqui. Lê, vai.

Mudando de história sem mudar de assunto, terminei de ler recentemente O caçador de pipas, de Khaled Hosseini. Sobre afegãos, narrado por um afegão. E com ótima tradução de Maria Helena Rouanet. O livro é tão belo quanto triste. Lê-se com um nó na garganta desde as primeiras páginas. Mas é um livro belo, sobre sentimentos belos e feios, conhecidos de todos nós. Não é um livro confortável, como não são confortáveis nossos sentimentos de covardia, de ciúme, que são feios mas que deram num belo livro. Surpreendente até as últimas páginas, o autor escreve com estilo atraente, prenuncia sem revelar os desenredos ainda não lidos. Um livro sincero, humano, terrivelmente humano.
Recomendo enfaticamente.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Excelente texto sobre línguas

Li hoje no Bombordo um excelente texto de Renato Guimarães sobre línguas ameaçadas de extinção e as possíveis consequências de seu desaparecimento. Muito bem escrito, com ótimas referências para quem se interessa pelo assunto das linguagens humanas e a formação cultural associada a elas.
Leiam.

E para quem gosta de literatura, o Idelber Avelar vai iniciar em seu blogue um grupo de estudos literários. Duas obras já estão previstas para análise: Duas vezes junho, de Martín Kohan (que eu não li e nem conhecia, mas parece interessante) e o Grande Sertão: Veredas (alguém já ouviu falar?).
Participem, que vai ser bom.

terça-feira, 23 de maio de 2006

Vão tomar no cu, porra!

Desculpem, mas o JB, que leio com muito gosto diariamente, resolveu fazer um complô pra criticar nossa bela cidade. Primeiro, dois textos idiotas sobre o filme Concepção, o qual não tem nada a ver com aquelas bobagens que eles disseram. O outro, de Fausto Wollf (autor que leio sempre e costumo admirar), tentando achar uma explicação mítico-sociopolítica para a corrupção no Brasil (em Brasília, textualmente).
Os três textos fazem insinuações injustas (e estúpidas) em relação a Brasília. Gente que certamente não vive aqui, não nasceu por aqui ou, se viveu, não entendeu o filme nem o jogo político em Brasília (jogo este que não tem nada a ver com a cidade, propriamente). Ou são uns filadasputa mesmo. Pois deixo a eles meu recado de quem nasceu em Brasília e nela vive com grande satisfação desde então: Senhores articulistas do JB, vão tomar nos seus respectivos cus.

(Este blogue começa a sofrer um processo grave de censura; vou tomar providências judiciais).

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Agora falando sério

Leiam o último texto de Idelber Avelar, sobre a política brasileira de combate às drogas.
Mas leiam mesmo.

A PELEJA DE NHONHÔ DAN BROWN COM O CORONÉ LEONARDO

Eis que então chegou ao céu
Aquele autor tão vendido
Exclamando “What the hell?
Terei realmente morrido?”
Aí viu se aproximando
O cabra de barba branca
Que por São Pedro ele tomou
E foi logo afinando:
“Me fodi, comme il fault,
É hoje que o céu me desanca”

Começou a matutar
Uma argumentação
Do tipo “Me deixa entrar
O que eu fiz foi só ficção!”
Mas aí o excomungado
Culpado por seu acinte
Viu que o recepcionista
Não era o santo citado
O erro saltava à vista:
Era o coroné da Vinci!

E ali no portão celeste
Leonardo mandou ver:
“Mano Brown, o que fizeste?
Olha com quem tu foi mexer!”
E o morto, incontinenti
Disse, ainda cheio de si:
“Pela minha auto-estima
Me diga imediatamente
Já que estamos aqui em cima:
Do que foi que eu morri?”

Leonardo, enfarado
Disse então: “Não sabes não?
Desde que foste publicado
Vendeste que nem sabão
Com tanta grana na conta
E o sucesso comercial
Encheste o cu de dinheiro
E o diagnóstico aponta:
Fodeste o intestino inteiro
Por obstrução anal!”

Nhonhô Brown disse: “Well,
Fiquei sem eira nem beira:
Vim parar logo no céu
Onde querem minha caveira
Se eu soubesse que ia dar bosta
Não fazia o bestseller
Fui mexer com um vespeiro
Que católico nenhum gosta
Devia sacar ligeiro:
Fui mais cego que a Hellen Keller!”

Mas coroné Leonardo
Que gostava de um mal-feito
Disse: “Alivio teu fardo
Nisso eu até que eu dou um jeito
Tu mexeste com a Igreja
Que de doido tá assim
Da Opus Dei fizeste pouco:
Um hospício, ora veja,
Que além de reunir louco
Ainda é a base do Alckmin!”

E o ralho prosseguiu:
“Vilipendiaste minha obra
Em nome do metal vil
Ali de arte nada sobra:
Foste venal, amiúde,
Fazendo um tal nonsense
Uma história tão maluca
Que serviu pra Hollywood
Vender como um suspense
Com o Tom Hanks de peruca!

Mas gostei de tua leréia
Posso até te reencarnar
Pois me ocorre uma idéia
E acho que tu vais gostar
Pra isso, te dou abrigo
E até cedo o mote:
Que tal um livro novo
Sacaneando meu inimigo
Que me esculhambava ao povo:
Michelangelo Buonarroti?!?”

E assim Nhonhô Dan Brown
Voltou ao mundo dos viventes
Fez um livro que era o tal
História sem precedentes
Narrando que a escultura
De Davi, desde o começo
Nada tinha a ver com glória
Trazia outra leitura
Era outra a história:
“Golias, eu não te esqueço!”

(Do blogue Ao Mirante, Nelson! <-- leia também!)

domingo, 21 de maio de 2006

Lição de vida

"E do alto da minha sabedoria lhes digo isto: não viva como se fosse morrer amanhã; viva como se fosse tropeçar em um segundo." (alexandre soares silva) <-- leia, leia!

Pra quem gostou...

Tem conto novo no De minha autoria. Pra quem não sabe, é meu blogue de contos.

Assisti a dois filmes nos últimos dois dias: no cinema, Concepção; em casa, Paradise now. O primeiro é bom, vão ver, desde que tenham mais de dezoito anos e nenhum preconceito. Mas, pra falar a verdade, não me diz muita coisa. É interessante por se passar em Brasília, o que dá um tom levemente diferente à fotografia. E a ideia de viver como se você não existisse já me passou pela cabeça várias vezes, mas com outros objetivos. E podiam ter arrumado uns atores que não tivessem sotaque paulista pra interpretar os brasilienses. Mas é bom, o filme.

Já o segundo, que acabei de ver, é muito interessante e, este sim, me diz muita coisa. Me deixa pensando. Há uma mensagem pacifista que, apesar de ser colocada ingenuamente no filme, é extremamente verdadeira e precisa de maior atenção. Fora isso, o filme é muito expressivo, os olhares dos personagens são intensos. É um filme cru, sem explosões (explícitas) e barulheira dispersiva. Prende a atenção pelo sentido. Pela razão. Ao menos, foi o que achei. Talvez mude de ideia amanhã quando acordar.

Agora vai lá ler o meu conto, que é bom também.

quinta-feira, 18 de maio de 2006

e por falar em censura...

"Ministério Público quer proibir Orkut no Brasil.

O site de relacionamentos Orkut pode estar com os dias contados no Brasil. O Ministério Público Federal pediu abertura de inquérito contra o Google Brasil, empresa que administra a página e acusada de não fornecer dados para as investigações. Existem quase 20 mil denúncias no país contra o Orkut, a maioria acusando apologia à pornografia infantil e racismo nas comunidades.
O procurador da República Sérgio Suiama, do Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos, quer autonomia para investigar as páginas suspeitas. O escritório do Google nos EUA enviará um representante para discutir o assunto na próxima semana, em Brasília."
Do site JB Online. Dúvida? Então leia!
e depois tem gente preocupada achando que o yogurt vai ser pago...

domingo, 14 de maio de 2006

Censura no blogue

O post sobre os ditados petistas foi censurado, após fortes pressões da esquerda saudosa. Ok, vou tentar falar de política sem ironia (não consigo, normalmente). O fato é que não gosto mais do PT. Não gosto mais do Lula. A gota d'água (ai, clichê) foi a última bravata desnecessária e arrogante, sobre não haver ninguém com 10% da dignidade do Nosso Guia (como diria J. Ubaldo) trabalhando na Veja. Não que eu goste da Veja. De modo algum. Detesto, aliás. Torço pra falir. Pra jogarem uma bomba (estou brincando; é bom avisar. Estou sendo irônico de novo, mas vou tentar parar). A Veja mente. Não tem dignidade. Mas não creio que alguém que confie tanto na própria dignidade precise ficar arrotando o tempo todo que é mais digno que todo o mundo. Não é a primeira vez que Lula diz isso. Mas não é só por isso que não gosto mais do Lula. Vou explicar por que não gosto mais.
Não gosto do Lula porque ele se aliou ao PMDB e passou a fazer parte do jogo fisiológico deles, para conseguir aprovação de projetos governistas no Congresso, ratificando uma prática condenável sob todos os aspectos.
Não gosto do Lula porque, quando foi caluniado (injustamente, ressalte-se) por um jornalista americano, que o acusou de beber mais do que devia, tomou a atitude idiota de cassar o visto do sujeito e querer expulsá-lo do país, deixando a imprensa toda com um pé atrás. Depois quis criar um órgão de controle da atividade jornalística, o que deixou toda a imprensa com os dois pés atrás e pedras nas mãos. E com toda a razão. É inadmissível querer cercear a atividade da imprensa num país que atravessou uma recentíssima ditadura militar.
Não gosto do Lula porque demitiu o Cristóvam Buarque. E encheu os Ministérios de pmdbistas.
Não gosto do Lula porque, quando se descobriu que havia corrupção nos bingos, ele mandou fechar tudo, atitude intempestiva, infrutífera e reveladora de que tinha o que temer. Se haver corrupção nos bingos é motivo para fechá-los, o futebol deveria estar proibido no Brasil há muito tempo.
Não gosto do Lula porque, descoberto o esquema de mensalão e caixa-dois, agiu com extrema complacência, chamou os pilantras todos do PT de amigos, disse que não sabia de nada. Defendeu o Zé Dirceu, defendeu o "Silvinho", defendeu o Palocci, defendeu o Delúbio. E não agradeceu em nenhum momento ao Roberto Jefferson (que é um filho da puta, mas fez um descomunal favor à democracia brasileira).
Não gosto do Lula porque se calou diante da crise e, quando veio a público, disse que não sabia de nada de nada de nada de nada. Por que não assumiu que sabia e que era obrigado a jogar esse jogo? Eu não esperava que a corrupção fosse sumir do mapa, nem vai; mas negá-la é ser mais conivente ainda com sua existência.
Não gosto de Lula porque foi estúpido ao dizer que não há ninguém na Veja que tenha 10% da dignidade dele. Já disse que não gosto da Veja, mas tenho certeza de que há diversos homens e mulheres dignos, honestos, inteligentes, que pagam seus impostos e querem um Brasil melhor trabalhando na revista. É um desrespeito, uma prepotência imbecil e injustificável a declaração dele.
Não gosto do Lula porque finge não estar interessado na reeleição, quando deveria estar afirmando para todos os cantos que buscaria se reeleger para dar seguimento ao combate à corrupção e para cumprir as metas estabelecidas de melhora de vida e aumento do salário mínimo etc.
Não gosto do Lula porque ainda cogita, apesar de tudo, se aliar novamente ao PMDB para tentar a reeleição. Não aprende com os erros. Para governar junto com o PMDB, tanto faz ganhar o PT ou o PSDB.

Lula não tem culpa do estado deplorável em que se encontra nossa política. A sociedade brasileira elegeu um dos piores Congressos da história de sua democracia. Isso certamente é o principal problema a ser corrigido. E não adianta vir com aquela baboseira de votar nulo achando que isso vai anular a eleição. Votar nulo (ou em branco, o que dá na mesma) não anula a eleição, muito menos impede os candidatos de concorrer novamente. Se 1% dos votos forem válidos, são esses votos que escolherão nossos representantes. Leiam isto aqui. A ideia de não votar em quem já teve mandato também é uma precipitação. Há bons políticos no Congresso (minoria, minoria). Tirá-los de lá é nivelar por baixo nossos próximos legisladores.
Não sei em quem vou votar nessas eleições. Não tenho motivos para votar em Lula; aliás, tenho um, e bem forte: não permitir que volte ao governo um partido corrupto, dissimulado, que defendeu um neoliberalismo suicida e que atrapalhou todos os bons projetos do governo Lula, só pra depois poder jogar na cara que "Éramos muito melhores" e etc. Em que só acredita quem for realmente muito desinformado. Ou desinteressado. Ou seja, a maioria dos eleitores.
Se não votar em Lula, votarei na Heloísa Helena, que é uma chata, mas é coerente. Mas não estou interessado em quem vai à Presidência ou quem serão os governadores. Preocupa-me quem serão os candidatos ao Congresso. Ou conseguimos eleger um Congresso mais coerente, menos fisiológico e mais preparado, ou não adianta botar quem quer que seja na Presidência.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

IBGE

Segundo pesquisa recente do IBGE, constata-se que a subnutrição infantil está diminuindo, no Brasil. No entanto, não se levou em conta, evidentemente, a greve de fome do Garotinho, a qual volta a engordar (ups) essa estatística.

Quando criança, eu também era ruim pra comer (ops).

Ditados petistas (este post foi censurado)

A mentira tem perna curta, mão boba e língua presa.

Vão-se os dedo, ficam os anéis nos bolso dos companheiro.

Um dia da caça, outro do caseiro.

Tudo vale a pena quando o bolso não é pequeno.

De surubão em surubão, a Jeany Mary Corner enche o papo.

De boas intenções o PT está cheio.



PS: Surrupiado, sem autorização prévia, do blogue fdr (aliás, ótimo).

PS2: Tenho descoberto, por falar nisso, blogues excelentes por aí. A lista de links está atualizada com alguns deles. Recomendo enfaticamente a leitura. Agradecimentos ao meu amigo Thiago A., que me introduziu (ops) nesse meio (ops ops).

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Livro novo

Saiu o livro sobre cinema e filosofia, O cinema pensa, do professor Julio Cabrera. O autor é um filósofo (ou professor de filosofia, como preferem os que não acreditam mais na existência de filósofos), argentino, que dá aulas na UnB, sobre Filosofia da Linguagem.
Ainda não li o livro, mas deve ser muito bom.
(está mais barato no site da Fnac, para quem não tem o MaisCultura)

Recomendo antes de ler, o que é um risco.

sábado, 6 de maio de 2006

Cantoras


Descobri recentemente (muito recentemente mesmo: anteontem) uma cantora fantástica. Chama-se Roberta Sá. Já descobri que ela participou de uma das edições do Fama, então deve ser mais conhecida do que eu pensava. Trata-se de uma jovem cantora de excelente voz, apurada técnica e (o que é raríssimo nas boas cantoras brasileiras) repertório de muito bom gosto. Seu canto lembra muito a Marisa Monte (que ela, inclusive, cita como uma de suas maiores influências); mas a Marisa Monte anda meio chatinha. A Roberta Sá, não. Músicas muito boas, com bons arranjos. Que bom. Estava fazendo falta na MPB uma cantora desse naipe. Não que não haja boas cantoras em nossa música, mas são poucas, e se imitam muitas vezes. E são, em grandíssima parte, limitadas quanto ao repertório. Ficam buscando um repertório meio rural, provinciano, com arranjos até bonitos, mas letras pobres. Outras, simplesmente, desafinam à beça.
É, portanto, ótimo que surja uma cantora como a Roberta Sá no cenário musical brasileiro, tão empobrecido atualmente pela baixíssima qualidade das produções inclusive de nossos bons músicos. Palmas para ela!

Segue uma lista comentada das cantoras brasileiras que ouço (na ordem em que eu for lembrando; talvez me esqueça de algumas):

- Adriana Calcanhoto: anda meio apagada, embora seus trabalhos antigos sejam excelentes;
- Marisa Monte: o disco com os Tribalistas é bom, mas não gostei dos dois últimos trabalhos dela (na verdade, nem ouvi direito; mas não gostei).
- Ceumar: pouco conhecida, mas muito boa cantora, ótima no palco e muito simpática. Mas não gosto muito do repertório que ela seleciona.
- Mônica Salmaso: uma das minhas preferidas. Uma voz deliciosa, arranjos belos. Mas, algumas vezes, seleciona canções meio provincianas, com arranjos muito sertanejos para meu gosto. Mas é ótima! Não por acaso, é o que estou ouvindo enquanto escrevo este post.
- Leila Pinheiro: ótima cantora. Gosto principalmente quando canta músicas mais melodiosas, lentas. Adoro "Catavento e Girassol", música maravilhosa do Guinga.
- Zélia Duncan: consegue se destacar bastante na nossa música, por sua voz forte e seu bom gosto.
- Rosa Passos: uma gracinha, ela cantando. Mas inova pouco no repertório.
- Cássia Eller: era, de longe, a minha preferida. Criativa, ótima intérprete, mesmo quando a música original era mais ou menos, sua gravação a tornava perfeita. Uma perda lamentável para a música brasileira. Estava na melhor fase de sua carreira quando se foi. Uma pena.
- Nana Caymmi: apesar de desafinar de vez em quando, tem bom gosto para escolher repertório e ótimos arranjos, além de ser muito expressiva.

E algumas que não ouço tanto:

- Zizi Possi: boa voz, boa técnica. Mas raramente gosto do repertório.
- Ana Carolina: muito interessante. Criativa. Mas muito pop para fazer grande diferença na MPB.
- Fátima Guedes: boa cantora; uma técnica impressionante. E compositora, o que é raro.
- Maria Rita: enjoei bem rápido; uma imitação da mãe, de quem já não gostava mesmo...

Devo ter esquecido algumas. Mas, enfim, é isso aí. Outro dia falamos dos cantores.


PS: O blogue fez aniversário de um mês e ninguém comemorou. Estou arrasado.

segunda-feira, 1 de maio de 2006

A Ilha

Assisti ontem ao filme "A Ilha". Confesso que, durante o filme, gostei bastante. Não que a Scarlett Johansson estivesse espetacular. Na verdade, ela não fica bem no papel de boazinha. Mas tudo bem. Falemos do filme. O fato é que o argumento dificilmente se sustenta. É aquela velha correria típica de Hollywood, em que um ou dois personagens enfrentam sozinhos uma poderosa organização criminosa e saem ganhando, apesar de todas as evidências indicarem o contrário. Dois pseudo-humanos, ingênuos e acostumados a ter tudo fácil, despistam a polícia e os milhares (sim, são milhares) de carros e helicópteros que os perseguem. Fora a pirotecnia a meu ver exagerada. Não vejo tanta destruição e explosões assim desde que assistia Spectreman (os mais jovens não sabem de quem estou falando, certamente). Fora isso, a montagem do filme é interessante, e a ideia é muito boa.

No entanto, fiquei pensando depois: o filme nos força a achar os clones uns coitadinhos e a apoiar sua libertação (certíssimo, aliás); e nos força a ter ódio dos outros, os "normais". Eles são maus. Egoístas. Querem viver a qualquer custo. Portanto estão errados. Isso legitima a ação dos dois clones rebeldes. Ora, essa discussão não pode ser tão simplista assim. Basta pensar que a luta de Lincoln Six Echo e JordanTwo Delta acaba gerando a morte, por exemplo, da Jordan original, mãe daquela graciosa menininha que aparece rapidamente no filme. Não creio que a morte de uma pessoa que tem família, que tem história, seja mais legítima que a morte de um ser humano artificial, ainda que ambos sejam humanos. Outras mortes: a do bom amigo de Lincoln, McCord; a do Lincoln original (não que ele fosse gente boa, mas trata-se de uma morte que não se justifica sob nenhum aspecto); e as mortes causadas pela explosão de centenas de carros, prédios, helicópteros e ônibus flutuantes (aliás, fico impressionado de ver como o ser humano é pretensioso: vejam como os americanos de Hollywood acham que será uma cidade dos States em 2019).

Aliás, essa tendência de achar que a morte de um monte de gente compensa a morte de outro tanto de pessoas é típica da política externa norte-americana. Vejam-se os exemplos do Iraque e do Afeganistão (para só falar dos mais recentes).

Voltando ao filme, "A Ilha" apresenta sem maiores discussões o ponto de vista extremamente conservador de que a busca pela longevidade é sempre egoísta e antiética. Não que o uso de clones humanos (conscientes ou não) seja legítimo a priori. Mas a questão precisa ser discutida com mais cuidado. Ou cairemos no fundamentalismo ultrarradical de dizer que a vida deve acabar naturalmente, como se a ciência não fosse uma faculdade divinamente inspirada.
O filme, no fim das contas, vale o ingresso, digamos assim; mas não transmite sob nenhum aspecto uma lição de moral que precisemos aprender. Fora a de que a Scarlett Johansson não deve interpretar personagens boazinhas.